Os efeitos de bater e beliscar a criança

Além da dor física: o que acontece no cérebro da criança quando os pais batem?

Quando uma mãe belisca ou bate em uma criança, algo muito maior do que a gente imagina acontece. Não é apenas uma “correção” ou uma dor momentânea, o corpo da criança reage. Tudo começa nos nociceptores: os sensores da dor

Nosso corpo possui sensores especiais chamados nociceptores. Eles ficam na pele, músculos e outros tecidos, e servem para detectar situações que causam dor ou machucado.

Quando a criança é beliscada, esses sensores são imediatamente ativados. Eles enviam um sinal de “perigo” para o cérebro, avisando que algo está errado.

Esse sinal chega em regiões do cérebro que controlam a dor física, mas também vai para áreas ligadas ao medo.

Por isso, a criança não sente só a dor do beliscão. Ela também pode sentir medo, principalmente quando essa dor vem de alguém que ela ama.

A criança, mesmo sem entender, começa a fazer associações emocionais. Isso é explicado pelo que chamamos de condicionamento respondente.

Funciona assim: quando a criança sente a dor do beliscão ou do tapa (estímulo incondicionado), o corpo reage naturalmente com dor (resposta incondicionada). No começo, a mãe, sua voz, seu toque ou sua presença são apenas coisas comuns, que não causam medo (estímulo neutro). Mas se a criança passa por essa dor várias vezes quando está perto da mãe, ela começa a associar a mãe com a sensação de dor e medo (condicionamento).

Com o tempo, só a presença ou o jeito da mãe já pode fazer a criança sentir medo ou ficar tensa, mesmo que não esteja apanhando naquele momento (estímulo condicionado que provoca uma resposta condicionada)

Resultado: a mãe se torna um estímulo condicionado, ou seja, sua presença, olhar ou tom de voz já causam medo, tensão ou retraimento, mesmo que ela não esteja batendo.

O corpo da criança reage como se estivesse diante de uma ameaça. O coração acelera, o corpo fica rígido, e ela se sente em alerta, mesmo em momentos em que deveria se sentir protegida e segura.

Desta forma, a aprendizagem é comprometida. A criança começa a fazer o que os pais querem, não porque aprendeu, mas para evitar ser beliscada novamente.

Com o tempo, essa associação pode prejudicar o vínculo entre os pais e filho(a). A criança passa a obedecer por medo, evita contato, e pode ter dificuldade de confiar, não só nos pais, mas em outras pessoas também.

Ela aprende, no corpo e nas emoções, que quem ama também machuca. Isso pode gerar confusão sobre afeto, autoestima fragilizada e até padrões de relacionamento inseguros no futuro.